segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O que é arte?


Hoje em dia para falar de arte, muitos sobem em um pedestal, enchem os peitos de vaidade e declamam versos, textos ou frases de pára-choque de caminhão impecavelmente decoradas. Uns memorizam nomes difíceis, técnicas ou até mesmo se prestam a decorar qual lado da cama o artista costumava dormir. Compram obras caras, penduram em suas paredes, quando na verdade eles não fazem a menor idéia do porque de pagar tão caro em um monte de borrões, nem ao menos conseguem perceber que a partir daquele momento a obra acabara de perder todo o seu valor.
Perguntas simples sugerem respostas simples. Existe uma tendência em achar que a simplicidade remete a algo mal elaborado, quando na verdade o “simples” tenta buscar o primórdio ou a origem, significa tirar do emaranhado de conceitos que o cerca, buscando um olhar particular.
Um doce experimentado pode  não agradar, mas também pode ser o doce mais incrível que você já comeu, dentro das duas possibilidades, o importante é que para admirar ou não, em momento algum é preciso saber como aquilo foi feito, o conhecimento acaba vindo sim, mas de uma forma natural, pela curiosidade.

Para responder essa pergunta não é necessário decifrar Picasso ou Beethoven, técnicas de pinturas ou saber ler partituras. Arte é um nome dado a uma manifestação, algo que acontece quando se cria uma nova forma de linguagem (seja ela qual for) para possibilitar um entendimento sobre qualquer coisa. Em uma interação, as vezes um olhar basta, mas outras vezes o olhar não é o suficiente, então surge a palavra, que para ser dita, causou dentro de cada um a reunião de um conjunto de sentimentos que é de comum conhecimento para ambos. É importante perceber que tanto na troca de olhares, quanto na troca de palavras, a mensagem foi passada, mas e quando o que temos a passar não é uma experiência coletiva, mas sim única? Como externar isso para outra pessoa? Imagine alguém que nunca teve a experiência de provar algo doce, agora tente com palavras, tornar essa experiência coletiva, nem com todos os recursos linguísticos você vai conseguir, o experimentar algo doce é apenas um exemplo bobo que está servindo de cenário para uma percepção.
A Arte manifesta-se exatamente nessa busca por recursos para aproximar o outro de uma experiência até então extremamente particular, a palavra "arte" originalmente significa “capacidade de dominar a matéria” este domínio pode ser sobre qualquer coisa, desde uma pedra até um poema.
Dar traços, cortes, tons a algo abstrato, exige do artista uma enorme sensibilidade e incrível habilidade para produzir aplicando seus objetivos e observando com os olhos de alguém que está tendo um primeiro contato, nessa dosagem de fazer e observar simultaneamente, buscando traços, formas e tons para aflorar aquilo que com palavras não foi aflorado, são atributos natos dotados por artistas com o dom de criar. 
As pessoas já tiveram como meio de comunicação apenas grunhidos, a evolução na linguagem vem ocorrendo por uma vontade inquietante do homem de compartilhar experiência vivida. A partir do momento em que o objetivo é alcançado, ou seja, com minha arte pude te mostrar algo que com palavras não consegui, a arte foi manifestada, como se um ciclo fosse cumprido para dar continuidade a um outro, mas na medida em que o tempo passa, aquela mesma obra que teve seu objetivo alcançado, já não carrega com sigo a arte presente, mas sim, um manifesto artístico passado, o que não a torna menos importante, mas o apego que ocorre nesse meio “comercial artístico” descaracteriza o papel da arte que precisa caminhar no tempo presente para existir em seu ciclo completo.
A arte marca uma passagem, uma transição, isso por ter como objetivo te fazer sentir algo novo. Ao invés das pessoas procurarem novas percepções, promover a “arte presente” se agarram ao passado sem dar o seu devido valor, deixando de enxergar novos artistas, com novas propostas as quais você não tem conhecimento, cria-se um pré-julgamento, e o conceito “arte” praticamente vira uma lenda, onde só se fez existente em um passado duvidoso.
O não incentivo a “arte presente”  que tão bela quando a “arte passada” esclarecerá problemas atuais, apontará o que tanto incomoda e não conseguimos enxergar, faz com que uma simples pergunta “o que é arte ? ” se torne um tabu, ninguém se atreve em botar em questão, mas continuamos a quantificar a arte em alguma coisa importante que já passou .
A arte esta sendo extinta pela desvalorização do tempo presente, mantendo o foco sempre no passado ou o seu valor se perdeu no mercado onde a assinatura do autor vale mais que sua obra, onde o que vale é ter status, capacidade de ter como respostas “versos, textos ou frases de pára-choque de caminhão impecavelmente decoradas” e um pedestal para me diferencias dos demais, mas na verdade são as duas coisas juntas.
A maioria vive de manifesto artístico passado, mas poucos a enxergam para dar seu devido valor, são obras que trataram de caos passados, são belas, mas para se apreciar é preciso saber o período e transformações históricas em que a arte foi produzida, caso contrario, ela pode não passara de borrões ou uma coisinha bonitinha, por isso essa “Arte comercial” não está para o povo, promovemos uma arte quantitativa e egoísta.
O verdadeiro artista não faz sua obra para que você a desvenda, mas sim, te desvenda através de sua obra.
Ainda bem que os artista são os sonhadore mais acordados que se pode imaginar, gozam de uma visão tão privilegiada que o silêncio torna-se pequeno demais. Quanto ao barulho que fazem?  é para te tocar de uma forma jamais percebida, aflorando mudanças sociais e pessoas que já fizeram e fazem a grande diferença.  Basta uma  olhada rápida pela história para nos dar a certeza da importância do artista , ninguém vive sem arte, para entender é só lembrar que as palavras hoje tão comuns, umas de sua preferência, outras não, um dia já foram um manifesto artístico.
Obrigada aos artistas que se fazem presente. Mesmo com a cegueira dos que lhe rodeiam, se desdobram em mil tons, cores e formas, sem abandonar a ideia de tornar o inacessível habitável.                    

Um comentário:

  1. Muito sensacional. É tão bom saber que existem pessoas, raras, que tem essa percepção sobre a arte e suas manifestações.

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